segunda-feira, 31 de agosto de 2015

Vuelta 2015: primeira semana de A(ndaluzia) a Z(é)

Tom Dumoulin lidera a Vuelta no primeiro dia de descanso
Se depois do Tour, pese a qualidade do pelotão presente, a Vuelta não consegue disfarçar a sensação de ser uma corrida, por comparação, menor, não ajuda que lhe tenha dado início um simulacro de contrarrelógio coletivo que nem contava para classificação geral. Tão-pouco lhe ajuda o percurso criado, não para o espetáculo televisivo, mas para o Youtube.

Não é que a esta Vuelta faltem finais emocionantes, porque os há e disso foi maior exemplo o de ontem vencido por Dumoulin, mas são etapas das quais basta ver os últimos cinco quilómetros. Exceção feita para a etapa de Múrcia, que ainda sendo um disparate duplo a dupla passagem pela Cresta de Gallo (pouco mais que um caminho de cabras), teve ataques e movimentações espalhadas por mais de vinte quilómetros. Não deve a Vuelta ou nenhuma corrida com um pelotão de igual tamanho passar por estradas como aquela, mas demonstra que muitas vezes a etapa pode ser mais interessante com o final alguns quilómetros após a última subida do que colocar uma chegada em cada topo e topinho do país, modelo implementado na ronda espanhola há alguns anos.

Após cancelado o arranque na Holanda, a Vuelta reservou uma semana inteira de competição para a Andaluzia (sete dias!), seguindo-se nove dias (mais um de descanso) para Costa Blanca, Andorra, Aragão, País Basco, Cantábria e Astúrias. Portando, deste a costa sudeste até ao noroeste do país, com neutralizações de duzentos quilómetros, por vezes incluindo regiões montanhosas, motivos de desgaste pós-etapa que em nada agradam as equipas.

Tom Dumoulin e Esteban Chaves têm sido duas das principais surpresas desta Vuelta, com uma etapa para o holandês e duas para o colombiano, alternando entre si a camisola vermelha desde que se destacaram na primeira etapa em linha, aproveitando então a apatia dos principais candidatos à geral. Desses, destaca-se a expulsão de Vincenzo Nibali, a desistência de Van Garderen e o alheamento de Mikel Landa destas contas. De resto, tudo em aberto, porque finais de montanha ainda só se disputou um, faltando quatro e o contrarrelógio de Burgos (38,7 km). A jornada rainha será a de quarta-feira, com uma contagem de segunda categoria, uma de especial e quatro de primeira, a derradeira a coincidir com a meta.
11ª etapa, na próxima quarta-feira
Dumoulin, que sempre foi um dos melhores da sua idade, já no ano passado foi um dos melhores do mundo no World Tour, osso duro na Volta à Suíça (5º), 3º no Eneco Tour, 2º no Quebec e bronze nos Mundiais de contrarrelógio, a sua especialidade, tudo antes de completar 24 anos. Será, dos corredores que melhor têm estado até aqui, um dos que mais tem a ganhar com o contrarrelógio de Burgos, mas primeiro importa ver se já tem estofo para a alta montanha, o que seria isso sim uma enorme surpresa, e depois se tem condições para as três semanas, ou se o que temos visto resultado de um pico de forma apontado ao começo da prova.

De Esteban Chaves, não é tão grande a surpresa, mas antes a confirmação do valor de um ex-vencedor da Volta a França do Futuro (2011). Depois de um 2013 perdido por lesão e um 2014 de regresso (com vitórias na Califórnia e na Volta à Suíça), tem dado muito boa conta de si e a Orica vai vingando aqui, também com uma vitória de Caleb Ewan, o azar o Tour.

Maior surpresa é para mim José Gonçalves. Depois de fazer a melhor Volta a Portugal da sua carreira, levando a melhor em duas etapas (uma vitória e uma desclassificação difícil de ajuizar), muitos pensavam que já estava no topo de forma, mas subiu o nível para a Vuelta. A escapar ao pelotão literalmente desde o primeiro dia, lançando e disputando sprints, subindo na roda dos melhores do mundo. A sua melhor forma até ao momento.
José Gonçalves com o prémio da combatividade da 2ª etapa

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