terça-feira, 24 de maio de 2016

Kruijswijk continua inquebrável

Apenas Steven Kruijswijk pode retirar esta camisola rosa que tem no corpo. Porque a vantagem é ampla, porque é cada vez mais ampla, e porque todos os sinais que deixa são positivos.

Após a crono-escalada, da qual saíram na primeira e na segunda posição, a estratégia de Steven Kruijswijk e Esteban Chaves era simples: seguir Vincenzo Nibali e Alejandro Valverde. E, apesar de serem excelentes os blocos da Astana e da Movistar, apesar da Lotto-Jumbo e da Orica não terem em Itália equipas talhadas para a alta montanha, Kruijswijk e Chaves apenas dependiam das suas próprias capacidades para defender os respetivos lugares.

O ciclismo é uma modalidade coletiva, mas a classificação é individual, e a partir de um certo ponto apenas interessa as pernas de cada um. Vamos ignorar a parte dos furos e das quedas. Há furos, há quedas, ter colegas por parte para ajudar a recolar importa. Mas na parte final apenas interessam as pernas de cada um. Seja a parte final da etapa ou a parte final da prova. Não vale a pena complicar mais do que isso. Quem não tem pernas para seguir com os melhores na hora das decisões, não se pode queixar da equipa.

Kruijswijk saiu da crono-escalada com Chaves a 2.12, Nibali a 2.51, Valverde a 3.29. Fazendo as contas com base em Chaves, tinha Nibali a 39 segundos e Valverde a 1.17. E o que podiam fazer a Movistar e a Astana? O que fizeram hoje, endurecer a corrida.

O ciclismo não é uma corrida de todos contra o camisola amarela (ou rosa). Não é todos-atacam-um. É um-ataca-todos. Quando Valverde ataca, não ataca apenas Kruijswijk. Ataca todos. O mesmo para Vincenzo Nibali. E para todos. Apesar do imenso poderio da Astana, Kruijswijk apenas tinha que seguir um homem e era Nibali. Apesar de todo o poderio da Movistar, apenas tinha que seguir Valverde.

Se Fuglsang ou Amador atacassem de longe? Não iriam atacar porque não tinham pernas. Se tivessem, então também a Tinkoff de Majka e a Katusha de Zakarin teriam que puxar porque os seus lugares também estariam em risco, mas esse é um grande "se". Não tinham pernas. Algo mais realístico: se Majka e Zakarin atacassem? A Astana e a Movistar teriam que anular. Os seus lugares também estavam em risco. E se Nibali e Valverde atacassem e Kruijswijk não conseguisse responder? Então seria culpa dele, não da equipa. Nunca poderia culpar a equipa se não tivesse pernas, porque aos líderes respondem os líderes.

Mas Kruijswijk teve pernas, para tudo e mais alguma coisa.

Foi mais uma etapa alucinante desde o começo e a Movistar rapidamente mostrou que queria destroçar o pelotão. Também a Astana o fez, enviando para a frente Tanel Kangert, um homem com que sempre podem contar os seus líderes.

Em boa hora a equipa espanhola endureceu o ritmo, pois só assim foi possível aproveitar o mau arranque do segundo classificado. Pôde contar com o apoio de Damien Howson e Ruben Plaza, depois Esteban Chaves fez uma enorme etapa, de trás para a frente, sem reclamar com quem tinha na roda (como é bom ver estes ciclistas que os têm no sítio!). Mas Chaves teve um momento mau, o corpo demorou a aquecer, e foi vítima dos muitos ataques na frente. O camisola rosa foi a todas.

Mesmo quando não parecia necessário, Steven Kruijswijk foi a todas (2º nas últimas três etapas). Ilnur Zakarin tirou como um louco, precisamente porque a corrida não se faz apenas contra o camisola rosa. O russo puxou sem pensar no sprint, como lá atrás Chaves também puxou, sempre a pensar na classificação geral. Nibali esse já tinha ficado nas covas. Há muito.

O italiano e a sua equipa tentaram, mas em vão. Está em quebra completa. Logo no começo da penúltima subida se viu que estava a pedalar demasiado leve, sem capacidade para puxar mais do que aquilo. Alejandro Valverde teve um dia mau que lhe custa o Giro, mas nas últimas duas etapas mostrou-se com capacidade suficiente para o pódio de Turim. E mais alguma vitória. Também a mais vai Bob Jungels. No Giro e na (jovem) carreira.

Depois de sábado escrevi que o vencedor estaria entre Kruijswijk, Chaves e Nibali, pois ninguém poderia recuperar o tempo de atraso que tinha para cada um dos três. Podiam (e podem) recuperar para, para dois, mas não para os três. Ao dia de hoje, se Kruijswijk estiver a um nível aceitável, ganha o Giro. Já nem precisa de estar bem, basta aceitável. E tem estado excelente.

Classificação geral, luta pelo top-10
1 Steven Kruijswijk (Ned) Team LottoNl-Jumbo 63:40:10  
2 Esteban Chaves (Col) Orica-GreenEdge 0:03:00  
3 Alejandro Valverde (Spa) Movistar Team 0:03:23  
4 Vincenzo Nibali (Ita) Astana Pro Team 0:04:43  
5 Ilnur Zakarin (Rus) Team Katusha 0:04:50  
6 Rafal Majka (Pol) Tinkoff Team 0:05:34  
7 Bob Jungels (Lux) Etixx - Quick-Step 0:07:57  
8 Andrey Amador (CRc) Movistar Team 0:08:53  
9 Domenico Pozzovivo (Ita) AG2R La Mondiale 0:10:05  
10 Kanstantsin Siutsou (Blr) Dimension Data 0:11:03  
11 Jakob Fuglsang (Den) Astana Pro Team 0:11:21  
12 Rigoberto Uran (Col) Cannondale Pro Cycling 0:13:53

Sem comentários:

Enviar um comentário

Share