domingo, 8 de maio de 2016

Marcel Kittel volta a ser o sprinter dominante

Marcel Kittel voltou definitivamente a ocupar no ciclismo internacional o lugar que tinha deixado algures na Austrália, em janeiro do ano passado. Então venceu o critério que precede o Tour Down Under e desapareceu, ficando confinando a provas de segunda categoria, num desses mistérios que permanecerá por resolver. Certo é que, com duas vitórias em outras tantas oportunidades no que vai deste Giro, o sprinter alemão está de volta.

Foram duas etapas muito semelhantes no traçado e no figurado, tal como se esperava, depois de um contrarrelógio inicial que premiou, finalmente, Tom Dumoulin e a Giant-Alpecin. Segundo no prólogo do Paris-Nice por um segundo, segundo no prólogo da Romandia e no contrarrelógio mais longo da mesma prova, o holandês venceu por 22 milésimos o crono de Apeldoorn, valendo-lhe a camisola rosa no seu país, aquele brilho nos olhos sempre que tinha que explicar o que se estava a passar e a alegria de uma multidão de gente, a corresponder à fama que têm os adeptos holandeses.

Nas duas etapas planas, outro holandês, Maarten Tjallingii, criando em Moçambique, foi um dos principais destaques, também ele curtindo à brava o momento (não, não sei melhor forma de descrever o prazer que Tjallingii foi transmitindo ao longo dos últimos dois dias). O ciclista da LottoNL assinou um contrato de apenas seis meses para disputar este Giro com passagem no seu país e se despedir da modalidade depois dos campeonatos nacionais, e chegará a Itália liderando a classificação da montanha e a classificação das metas volantes. No caso da primeira, dá-lhe a camisola azul, no caso da segunda é uma das muitas do Giro que não dá qualquer camisola mas existe.

A Nippo-Vini Fantini, sempre através de Giacomo Berlato, fez o seu trabalho, tal como a Wilier-Southeast hoje com Julen Amezqueta (vencedor da Volta a Portugal do Futuro de 2015), ao passo que a Bardiani, a outra equipa continental profissional italiana convidada, tem passado ao lado da prova. A Dimension Data mantém o espírito demonstrado enquanto MTN-Qhubeka no ano passado sobretudo no Tour, com Omar Fraille a vestir de azul por um dia e hoje Johann Van Zyl a sonhar com a etapa até aos derradeiros quilómetros.

O susto que o pelotão apanhou hoje com Van Zyl é fruto de uma forma de correr que, pelo menos que eu tenha reparado, é nova.

Parece-me (e isto não tem nada de cientifico, é apenas o que me parece) que até há poucos anos as equipas com interesse em chegada ao sprint preocupavam-se em meter um ritmo muito elevado nos últimos largos quilómetros, ao passo que nos últimos tempos parecem empenhadas em chegar com 8 ciclistas até dois quilómetros da meta. Parece que cada equipa tem um corredor para controlar o pelotão durante 160, 170, 200 ou quantos forem, até à falta de vinte, e só então os restantes aparecem de cara ao vento. Até porque, agora, e cada equipa tem o seu comboio. Vem uma equipa com quatro ciclistas pela direita, outra com quatro pela esquerda, outra com quatro pelo meio, ainda outra, e se houver espaço uma quinta. Depois, a cinco, chegam as equipas dos sprinters, cada sprinter com quatro ou cinco lançadores. E para apostar nesta estratégia em que cada equipa precisa de quase todos os homens até aos últimos quilómetros, tentam ao máximo poupar-se durante todo o percurso. Note-se que hoje, quando Pieter Serry, a mando da Etixx, se chegou à frente repentinamente com o andamento mais elevado, para espicaçar as restantes equipas, todas demoraram a responder. Todas demoraram a perceber que o perigo era real e estavam havia demasiados quilómetros sem recuperar tempo para a frente.

No final, foi por muito pouco que alcançaram Van Zyl, mas foi ainda a tempo do triunfo de Marcel Kittel, o segundo em duas oportunidades, tal como em 2014 com vitórias em Belfast e Dublin antes do Giro chegar a Itália (e antes do alemão abandonar). Os adversários fizeram o que estava ao seu alcance para entrarem no ângulo da câmara de helicóptero, mas em vão.

Com as duas vitórias e as bonificações que chegam por consequência, Kittel é o novo líder, sendo a principal baixa no top-10 Primoz Roglic, o surpreendente trepador de fevereiro na Volta ao Algarve e mais ainda surpreendente contrarrelogista de sexta-feira, que caiu já próximo do término da terceira etapa e perdeu sete minutos.

O Giro regressa terça-feira, já em Itália, com duas etapas mais acidentadas, a primeira em solo transalpino poderá mesmo deixar de fora da discussão vários sprinters, e a primeira chegada em alto será na quinta-feira.

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