quinta-feira, 7 de julho de 2016

Um início calmo, um Cavendish endiabrado

O Tour de France 2016 está a ser uma das grandes voltas mais calmas de que há memória, o que se comprova com seis etapas sem qualquer abandono e seis etapas ao cabo das quais apenas dois candidatos ao pódio ou a algo de relevo perderam tempo: Contador e Porte.

Mark Cavendish voltou a ser o sprinter dominante, numa temporada em que já passou pelo velodromo para disputar os Campeonatos do Mundo de pista e voltará a passar no Rio de Janeiro. Há quem diga que não é uma surpresa, o que não posso deixar de discordar, baseando-me no mesmo em que me baseio para dizer que voltou a ser o dominante: os números.

Em 2014 Cavendish teve 11 vitórias (0 em grandes Voltas), Kittel 13 (2 no Giro, 4 no Tour), Greipel 16 (1 no Tour). Em 2015 Cavendish teve 14 vitórias (1 no Tour), Greipel 16 (4 no Tour) e Kittel esteve desaparecido. Em 2016 Cavendish chegou ao Tour com 4 vitórias, Greipel com 8 (3 no Giro) e Kittel com 10 (2 no Giro). Então, Kittel e Greipel venceram mais, venceram mais em grandes voltas, bateram mais vezes Cav do que foram batidos, e foram melhores. Quem o diz são os números. E também são os números que mostram que Cavendish é o melhor sprinter deste Tour. Até ao momento. Com boa margem.

Ainda relativamente aos sprints, estes estão a mudar. Com as equipas que lutam pela classificação geral a quererem cada vez mais estar na frente (e cada vez mais na frente), a aproximação à meta nos últimos quilómetros modificou-se muito nos últimos dois anos (mais coisa, menos coisa), tornando-se mais caótica. Então temos visto a Etixx-Quick Step e a Dimension Data nos últimos dias, em vez de se desgastarem para terem todos os homens na frente nos últimos dez quilómetros, a juntarem-se mais atrás e apenas com quatro/cinco corredores e só na parte final a leva-los para a frente. Por outro lado, em jeito de curiosidade, vimos hoje a Direct Energie a queimar todos os ciclistas de forma despropositada. Por muita confiança que tivesse ou quisessem transmitir a Bryan Coquard, não tinha sentido desgastarem tanto todos os homens. São energias que farão falta quando andarem em fuga à procura de um triunfo.
Cavendish passa Hinault e vai a caminho das 34 vitórias de Merckx. Faltam 5.
No que toca aos homens que eram candidatos a uma boa classificação geral, apenas dois já perderam tempo (os 11s do Pinot e companhia são irrelevantes). Porte e Contador.

No caso de Richie Porte ainda que esteja quase dois minutos atrás de Tejay Van Garderen, faltando ainda toda a dificuldade, continuarão a ser co-líderes até que a montanha mostra que algum está claramente melhor ou elimine o outro. No caso de Alberto Contador, também paira a incerteza pelo menos até ao dia de amanhã, com o Col d'Aspin a ser um grande teste à recuperação do espanhol.

Roman Kreuziger poderá ser o plano B da Tinkoff. Depois de em 2013 ser obrigado a esperar nas primeiras semanas porque a direção da equipa esperava que Contador recuperasse no final (foram 4º Contador e 5º Kreuziger no final), parece-me fazer sentido Kreuziger defender-se pois não há nenhuma garantia de que Contador recupere a tempo dos Pirenéus. No entanto, Contador já fez saber que Kreuziger desrespeitou as regras da equipa, expondo publicamente os problemas da equipa (que em 2017 não será a sua).

Amanhã teremos as primeiras desilusões. Após seis etapas temos 198 ciclistas na estrada e poucas indicações para o que falta vir.

Depois, uma nota para a combatividade da Bora, a tentar convencer as empresas que estão a estudar a hipótese de patrocinarem a subida ao World Tour em 2017, da IAM, com os seus ciclistas à procura de continuidade para 2017, e da Fortuneo. Também Oleg Tinkoff está à procura de qualquer coisa para justificar a continuidade da equipa. Parece-me que nesta altura a continuidade, na sua cabeça, já está assegurada.

E uma nota final para a Jasper Stuyven, o camisola amarela Greg Van Avermaet e Thomas de Gendt. Para quem lê este espaço não será novidade nem necessitará de maior explicação. E De Gendt já teve uma das melhores declarações do Tour e daquilo que é (ou deveria ser) o espírito da coisa.

"Não me quero gabar, mas eu consegui ficar 200 km com o Grev Van Avermaet. O melhor venceu".


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