Sem a pujança financeira de
outros tempos e com um plantel que tanto surpreendeu e se valorizou em 2016 e 2017, a
equipa de Patrick Lefevere teve que deixar sair algumas das principais figuras
para segurar outras.
A equipa Quick Step passou por uma redução orçamental há um ano, com o fim do patrocínio da Etixx sem substituto, e 2017 foi
dado como um ano para a estrutura encontrar novo sponsor que permitisse a
continuidade da estrada, pois apenas a Quick Step não seria suficiente como
patrocinador principal. O ano passou, não chegou um forte incremento ao
orçamento da equipa e tornou-se impossível manter o plantel que mais se
valorizou na época agora terminada.
O bom problema
Fernando Gaviria chegou em 2015
como uma jovem promessa e em 2017 somou 14 triunfos, quatro dos quais no Giro
d’Italia. Marcel Kittel chegou em 2016 depois de uma temporada tão má que a
Giant-Alpecin aceitou rescindir o seu contrato – nem Kittel queria continuar na
equipa, nem a equipa queria que o ciclista continuasse. Mas o alemão
reconquistou o posto de melhor sprinter da atualidade, com igual número de 14
vitórias e cinco delas no Tour. Os dois merecem agora um aumento de salário e a
equipa apenas podia dar a um.
Philippe Gilbert chegou em 2017
com 34 anos cumpridos e muitas dúvidas se ainda conseguiria render ao seu
melhor nível: não só venceu (mais uma vez) a Amstel Gold Race como, finalmente, conseguiu cumprir o seu sonho de vencer a Volta a Flandres, protagonizando uma
das exibições mais incríveis. Quanto a Matteo Trentin, depois de vitórias no Giro e no
Tour em épocas transactas, já merece outro tipo de liberdade, também para as clássicas, e despede-se
com 7 vitórias, quatro delas na Vuelta.
Daniel Martin chegou ao plantel em
2016 como um teórico candidato a top-10 no Tour de France. Em dois anos, foi
9º, foi 6º, rendeu a excelente nível em provas de uma semana e nas clássicas
das Ardenas e partirá para 2018 como um candidato inclusivamente a algo mais.
Bob Jungels chegou no mesmo ano e poucos esperariam dois top-10 no Giro
d’Italia, um contrarrelogista que não se esconde nas montanhas e pode lutar ao
sprint em grupos reduzidos. Os dois são agora mais caros e a Quick Step não
consegue segurar ambos.
E ainda Julian Alaphilippe, já um
dos melhores do mundo para as Ardenas, combativo, capaz de lutar em muitas etapas de
grandes voltas e ainda com margem de progressão para classificações gerais,
sobretudo em provas de uma semana.
Alguém teria que sair. Haveria,
forçosamente, baixas de peso.
As escolhas e o resultado
O resultado final não dependeu
apenas da equipa belga, mas também dos ciclistas e do mercado, das propostas
que outras concorrentes fizeram aos seus ciclistas mais cobiçados. Isto convém ter sempre em conta nas análises feitas às "contratações". Muitas vezes a ausência de grandes reforços não se deve à falta de capacidade intelectual dos seus responsáveis mas à falta de argumentos financeiros em comparação com as rivais. No caso da Quick Step, mesmo não tendo acesso a toda a informação, olhando ao
plantel que irá para a temporada prestes a iniciar, a escolha parece
ter recaído nos jovens, com uma forte aposta no futuro.
A Quick Step perdeu Marcel Kittel
para a Katusha-Alpecin, mas segurou Fernando Gaviria, seis anos mais jovem e mais
versátil. Kittel é o ciclista mais rápido da atualidade, mas é um ciclista
válido apenas para chegadas em grande pelotão, enquanto Gaviria, vencedor
também do Paris-Tours 2017, pode lutar pela vitória numa mão cheia de
clássicas, com a Milano-Sanremo à cabeça. E fica ainda a esperança do
colombiano se tornar, porque não, o melhor sprinter do mundo num futuro
próximo. Aos 23 anos, parece ter margem para isso.
E precisando dum outro sprinter
para dividir o posto com Gaviria ao longo da temporada, a Quick Step conseguiu
Elia Viviani, um excelente sprinter sem espaço na Sky, que chegou a ser
noticiado como certo na Emirates (a mudança seria logo em agosto, diziam) mas irá
sim para a histórica belga. Aqui Viviani, campeão olímpico de Omnium poderá ter tudo o que lhe faltou na anterior equipa: oportunidades em grandes voltas e apoio para isso.
Daniel Martin saiu para a
Emirates, sem dúvida uma aposta muito válida para a equipa árabe atacar o Tour com esperança num resultado cimeiro,
mas um ciclista de 32 anos já cumpridos. A Quick Step por sua parte segurou Bob
Jungels, de apenas 25 anos e, porque não, ainda com margem para atacar o pódio
de uma grande volta. Além de Julian Alaphilippe, agora o líder indiscutível da
equipa para as duas clássicas das Ardenas belgas e mais algumas provas de uma
semana onde deixará de ter a sombra de Martin.
Outra baixa assinalável é David
de la Cruz (Sky), suprida, dentro do possível, com a esperança na evolução de
Enric Mas (22 anos), um dos mais promissores ciclistas no pelotão World Tour.
É uma Quick Step sem dúvida mais
fraca, que em
abril se tinha despedido de Tom Boonen e agora perdeu outros cabeças de cartaz e apoios, como Gianluca Brambilla, Julien Vermote e Jack Bauer. Mas é a Quick Step possível, ainda e
sempre com um grande foco nos pavês, com Zdenek Stybar e Niki Terpstra como principais armas para essas batalhas.
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