terça-feira, 12 de dezembro de 2017

UAE-Emirates: os petrodólares valeram Kristoff, Martin e Aru

Com as mudanças para 2018 como tema, a análise não pode começar por outra equipa que não a UAE-Emirates, a equipa que mais reforços de peso assegurou, com Fabio Aru, Daniel Martin e Alexander Kristoff à cabeça.

Depois de vários anos com a empresa Lampre a desinvestir do apoio à sua equipa, a formação de 2016 já pouco tinha a ver com o que havia sido nos seus melhores anos, revelando-se incapaz de substituir Damiano Cunego, Michele Scarponi, Filippo Pozzato e Alessandro Petacchi. Todos eles contratados como figuras de relevo, saíram sem que a equipa fizesse um grande investimento na sua substituição, com a excepção de Rui Costa, o único que chegou à equipa nos últimos anos (2014) já com um estatuto de peso na altura da sua entrada. E, continuando com esse desinvestimento, eram muito fortes os indícios que a Lampre iria desaparecer do World Tour quando, já no final de agosto de 2016, chegou o apoio de um grupo chinês (altura em que até a empresa Merida já tinha abandonado o projeto e migrado para o Bahrain).


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Mauro Gianetti, com o seu histórico de orçamentos exagerados, falava em 30 milhões por ano, o que o colocaria muito próximo da Sky em termos orçamentais, algo que levanta algumas dúvidas. Um consórcio chinês que ninguém percebia muito bem chegaria ao ciclismo para promover o que ninguém sabia o que era. E não chegou. Já estavam em dezembro quando surgiram as primeiras notícias de que tudo estava atrasado: os ciclistas não tinham equipamentos e os estágios não estavam marcados.

A equipa foi salva em dezembro, quando as restantes já estavam a trabalhar, com a chegada do apoio de Abu Dhabi, o emirado que serve de capital aos Emirados Árabes Unidos, mas o orçamento cairia, segundo o CyclingNews, para algo como 8 ou 9 milhões de euros, o mais baixo do World Tour. Menos de um terço do prometido mas não havia nada a fazer, nem para os ciclistas nem para o staff. Ou abdicavam de uma parte do que tinham acordado e iam para 2017 como ciclistas da Abu Dhabi, ou não abdicavam de parte… e ficavam sem nada porque as restantes equipas já estavam fechadas.

A verdadeira solução chegou em fevereiro, com o patrocínio da companhia aérea Emirates, do Dubai, outro dos sete emirados dos EAU. Aí sim, a equipa poderia finalmente reforçar-se… para 2018. O esboço de projeto TJ-Lampre não pôde reforçar-se porque, quando a promessa chinesa chegou, os ciclistas melhor cotados já tinham contrato assinado para 2017 e a sucessora da Lampre limitou-se a ficar com os que ainda estavam no mercado. Quando a Emirates chegou, já com a temporada iniciada, também não havia nada a fazer. E a partir de agosto deste ano sim, iríamos ver o poderio desta equipa, agora de cara lavada e mais distante daquilo que era a Lampre.

Para o mercado 2017-2018 a UAE-Emirates definiu três reforços prioritários: um sprinter/classicomano, um homem para o Giro d’Italia e um homem para o Tour de France, sendo que Louis Meintjes dificilmente entraria nas contas. Meintjes já estava para sair há um ano quando se perspetivava o final da Lampre e o sul-africano tinha mercado, mas a equipa continuou e teve que cumprir o seu contrato. Volvido um ano, com apenas 25 de idade mas já dois top-10 no Tour, o interesse era ainda maior e Meintjes não estava muito interessado em permanecer numa equipa que, segundo parece, teve algumas falhas de organização.

Para o primeiro perfil (sprinter/classicomano) ninguém encaixava melhor do que Alexander Kristoff e o norueguês não estaria muito contente com a Katusha. E por seu turno a Katusha também não estaria muito contente com o rendimento do ciclista. Depois de uma renovação que saiu muito cara, após a vitória na Volta a Flandres 2015 (e em 2014 a Milano-Sanremo e duas etapas no Tour), Kristoff não voltou a alcançar o seu melhor nível. A Katusha estaria disposta a renovar com o ciclista mas com uma redução salarial (importa saber que uma renovação não significa necessariamente um pleno contentamento da equipa).

Kristoff, que antes do último Tour protestou publicamente por a Katusha não levar para o apoiar Michael Morkov, não terá um grande bloco para seu suporte. Para o acompnhar nesta mexida escolheu o compatriota Sven Erik Bystrom, confiando na evolução do campeão mundial sub-23 de 2014.

Já para voltistas, havia mais opções, mas a equipa árabe terá conseguido duas das melhores: Fabio Aru e Daniel Martin, quinto e sexto do último Tour de France. Tudo indica, com Fabio Aru para liderar no Giro d’Italia e Daniel Martin no Tour.
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De saída da equipa estão, em maior destaque, Sacha Modolo, Matej Mohoric e sobretudo Louis Meintjes, oitavo nos últimos dois Tours, mas a Emirates fica com condições para lutar em todas as principais provas ao longo da temporada.

Alexander Kristoff será o líder para as clássicas, de Sanremo a Roubaix, para as Ardenas terá Daniel Martin, Rui Costa e Diego Ulissi, todos diferentes, o que acaba por ser o ideal para três provas também elas diferentes onde convém ter várias armas para cobrir todos os cenários, depois Fabio Aru para o a Volta a Itália, Daniel Martin para a Volta a França e, previsivelmente, os dois na Volta a Espanha, com várias opções para dividir pelas provas de uma semana. Questão importante será o apoio que os líderes terão. Diego Ulissi, um caça-etapas durante toda a carreira, e Rui Costa, depois de três anos a procurar o top-10 de uma grande volta, terão agora que dar o apoio que não deram a Louis Meintjes nos últimos dois Tours. E Darwin Atapuma, ele sim já com um top-10 no Giro, será outro dos importantes escudeiros para os Alpes e/ou Pirenéus, em maio ou julho. 
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