segunda-feira, 9 de abril de 2012

Tom Boonen I de Flandres


Tom Boonen já é um Rei de Flandres, um ídolo, mas ainda pode ir mais além. Depois do que conquistou nos últimos dias, está a caminho de se tornar o mais vitorioso e melhor sucedido corredor em pavês e eliminar as comparações com Johan Museeuw, Roger de Vlaeminck ou Eddy Merckx. Já não é “o novo Museeuw” e deixará de ser também “o sucessor de Museew”, tornando apenas ele, Tom Boonen.


Não vou repetir o que já disse noúltimo artigo nem comentar a postura dos comentadores Eurosport PT perante Boonen. Centremo-nos em Boonen, na Volta a Flandres e no Paris-Roubaix de ontem.

Volta a Flandres

Infelizmente, Fabian Cancellara caiu na Volta a Flandres, partiu a clavícula (em quatro sítios) e ficamos impedidos de ver o duelo entre ele e Boonen, um duelo que prometia ser muito empolgante. A partir daí, Boonen tornou-se o mais claro favorito à vitória. Uma queda na penúltima volta, nos primeiros colocados do pelotão quando este subia o Paterberg, ia deixando quase toda a gente fora da luta, mas felizmente os dois grupos aí formados ainda se voltaram a juntar. Foi só na última volta, no Oude Kwaremont, penúltima dificuldade da prova, que um ataque de Alessandro Ballan (BMC) formou o trio que lutaria pela vitória, juntamente com Filippo Pozzato (Farnese Vini) e, claro, Tom Boonen (Omega Pharma). A subir o belga estava em desvantagem para com os italianos, mas Peter Sagan (Liquigas) e Pozzato fizeram com que Boonen chegasse a Balan, vencedor da prova em 2007.

Na última subida do dia, as pernas começaram a falhar a Boonen, mas o belga, da região “holandesa” do país, Flandres, teve a garra dos grandes campeões e conseguiu terminar a dificuldade perto dos outros dois, o suficiente para encostar nas suas rodas logo a seguir. Pozzato e Ballan poderiam ter deixado Boonen ali, mas não o fizeram, ou porque não repararam nas dificuldades por que este passava ou porque também eles iam no limite.

Peter Sagan e Luca Paolini (Katusha) foram os mais inconformados e os que mais próximos estiveram do trio da frente, mas ninguém conseguiu lá chegar. Ballan, sabendo que era o mais lento dos três, atacou diversas vezes, mas sempre sem sucesso. No final Boonen confirmou o favoritismo, perante a alegria dos seus compatriotas, bem patente na foto seguinte. Uma criança de 11 anos, com a camisola da Omega Pharma e um monte de bandeiras de Flandres na mão, ajoelhada, a comemorar a vitória do seu ídolo.


Num país desportivamente cateto e obcecado pelo futebol como o nosso, é impossível compreendermos totalmente esta paixão. Momentos como estes fazem-nos compreender uma parte, mas certamente que muito continua incompreensível para nós.

A vitória de Boonen em Flandres fez manchete nos jornais generalistas belgas. Pois é! Quando o Sérgio Paulinho ou o Rui Costa venceram na Volta a França, tiveram apenas um cantinho nos jornais "DESPORTIVOS" portugueses, como se fosse uma coisa banal. Quando o Nelson Évora foi campeão olímpico, o destaque do Record era uma entrevista com o Aimar. Quando o Boonen venceu a Volta a Flandres (tantas e tantas vezes vencida por belgas e já duas vezes anteriormente por ele), não só foi capa nos jornais desportivos, como foi manchete nos desportivos e nos generalistas. Somos mesmo um país desportivamente cateto.

Paris-Roubaix

Ballan, Pozzato e Boonen partiam para o Paris-Roubaix como os três grandes favoritos, pelo seu palmarés nesta prova mas também pelo que fizeram na Volta a Flandres, sendo o favoritismo do belga maior por ser o mais rápido e lhe “bastar” andar na roda dos restantes. Esta situação era semelhante à de 2010, em que Cancellara e o mesmo Boonen mostraram em Flandres ser quem tinha melhor condição física e partiram para Roubaix como homens a bater. Boonen fez o que Cancellara lhe fez daquela vez.

Em 2010, Cancellara aproveitou uma distracção do grupo de favoritos para atacar e vencer com dois minutos de avanço. Não foi uma distracção de Boonen nem o “aproveitar que Boonen estava a alimentar-se”. Cancellara estava num grupo de onze corredores em que ninguém puxava e todos olhavam uns para os outros sem grande preocupação. Arrancou e lá foi ele. Na sua perseguição, Boonen foi quem deu mais de si, tentado chegar à frente para cumprir o seu objectivo: vencer! Provou aí um veneno que não gostou e ontem aplicou-o a seu favor.

Boonen, com o seu colega Niki Terpstra (que também está em excelente forma), aproveitou uma brecha que os seus rivais deixaram e atacou a 50 quilómetros do final, na mesma zona de Cancellara há dois anos. Boonen não precisa de reconhecer a prova e não precisa que lhe digam como a correr, porque já a tinha vencido sozinho e ao sprint, já a tinha perdido de várias formas e não há melhores professores do que a experiência e os erros. Basta querer aprender com eles.

Voltando ao ataque… Boonen saberá que não é tão bom contra-relogista como Cancellara, mas também sabe o que é estar na perseguição a um homem e sabia que lá atrás teriam o mesmo problema que ele teve em 2010. Sinceramente, quando vi ele e o seu colega na frente, pensei que fizessem a dobradinha. Afinal de contas, a Omega Pharma-Quick Step é a sucessora da Mapei… que fez três triplas em Roubaix.

Terpstra não aguentou o sector seguinte de pavé e, durante 50 quilómetros, o Tornado Tom apenas teve que se preocupar em dar aos pedais. Boonen pedalou a um ritmo constante porque sabia que só dependia de si e desse ritmo para vencer. Lá atrás, a Sky trabalhava para Flecha mas sabiam que Luca Paolini, Mathieu Ladagnous (FDJ), Sebastien Turgot (Europcar) e Guarnieiri (Astana) eram mais rápidos ao sprint e por isso talvez fosse melhor poupar Boasson Hagen. Além disso, Ballan, Vansummeren (Garmin), Lars Boom (Rabobank) e Terpstra eram sérias ameaças e convinha que trabalhassem na frente do grupo para também se desgastarem. Ballan, Vansummeren e Boom sabiam que podia discutir a prova mas também temiam os homens mais rápidos e preferiam que fosse a Sky (que tinha Flecha, Hagen, Stannard e Hayman) a comandar a perseguição. Ladagnous, Turgot e Paolini, sendo modestos, preferiam estar quietos, deixar a Sky trabalhar e pouparem-se para o sprint e a luta pelo pódio. Enfim,  eram catorze homens, treze cheios de dúvidas e receios e um (Terpstra) “descansado” por ter o colega a caminho da vitória. Pozzato e Hushovd já tinham ficado fora da luta devido a quedas e Sylvain Chavanel devido a furo.

Flecha atacou no grupo perseguidor quando ainda tinha três colegas, um ataque que significava que o trabalho dos colegas não era suficiente… ou que se queria livrar de Hagen. Boom furou, reentrou no grupo e atacou, ficando apenas com Ballan, Flecha e o surpreendente Ladagnous a 15 km da meta e com Boonen a 1.10 minutos. Naquele momento era preciso que alguém assumisse a perseguição atrás, sem medos, mas ninguém o fez. Pessoalmente, só vejo três corredores de pavé capazes de o assumir: Gilbert, Cancellara… e Boonen. Os dois primeiros estavam em casa e o terceiro era o homem da frente. A corrida estava aí sentenciada, tal como estava a 40 km da meta, quando os perseguidores começaram a pensar uns nos outros em demasia.

Ladagnous teve a infelicidade de furar, Flecha, Ballan e Boom ficaram com luta pelo segundo lugar entre eles… ou pensavam que sim. Já dentro de Velódromo de Roubaix, Terpstra e Turgot apanharam-nos, mostrando que, mais importante de ser um, dois, três, quatro ou dez a perseguir, é a união existente entre eles. Foi necessário photofinish, mas o segundo lugar foi para Turgot e o terceiro para Ballan, 1.39 minutos depois de Boonen, agora empatado com Roger de Vlaeminck como os mais vitoriosos do Paris-Roubaix, com quatro triunfos.



O melhor de sempre?

Esta é a capa do generalista Het Nieuwsblad
após a vitória de Boonen em Roubaix.
Impensável em Portugal
De Vlaeminck, tal como Merckx, correu numa geração muito diferente à de Boonen, por isso não gosto de fazer comparações sobre quem era melhor ciclista. Independentemente disso, Boonen vai a caminho de ser o mais bem-sucedido corredor das provas de pavé. Nunca venceu nem vencerá a Amstel Gold Race como Museeuw, ou a Liège-Bastonge-Liège e o Giro di Lombardia como De Vlaeminck e Merckx, três corredores mais versáteis, principalmente os dois mais velhos, porque correram numa época em que o mesmo ciclista podia ganhar quase todas as provas do calendário.

Mas no que toca às cinco grandes provas de pavé, Boonen leva cinco GP E3 de Flandres, três Gent-Wevelgem, três Voltas a Flandres e quatro Paris-Roubaix. É o recordista no GP E3, na GW reparte o recorde com Merckx e mais três corredores, em Flandres com Museeuw e mais três e em Roubaix apenas com De Vlaeminck. Tem ainda um pódio em Flandres, dois em Roubaix (incluindo a primeira participação), um na GW, dois no GP E3 e três no Circuito Het Nieuwsblad (ex-Het Volk), a única grande prova de pavé que lhe falta vencer.

Tem também um título mundial e muitas outras vitórias, que podem ser vistas, porexemplo, aqui. Mas principalmente tem 31 anos e tempo suficiente para se tornar o recordista isolado de cada uma destas provas.

3 comentários:

  1. É bom ver te de volta Ace! :D

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  2. Gosto de te ver outra vez a postar mais regularmente Ace! :D
    Gostei muito do artigo dos putos, sendo o melhor o Démare!«... :mrgreen:
    Fazes falta no pcmpt

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