terça-feira, 14 de julho de 2015

Há vida em Marte!

O maior talento do ciclismo mundial esteve submerso até aos 26 anos.
Os dias de descanso são sempre muito importantes nas provas por etapas, seja pelas reuniões de empresários que procuram equipa para os seus ciclistas no ano seguinte, seja pela excelente seleção de bifes do lombo que proporciona, ou por um vastíssimo leque de acontecimentos que apenas chegam ao público vários anos mais tarde nas biografias publicadas, e rodízios que às vezes assentam tão bem e noutras assenta tão mal.

Desta vez o grande interesse do dia de descanso foi público, ainda que tenha passado ao lado da generalidade da comunicação social. Na segunda-feira saiu a público o vídeo da subida ao Monte Ventoux de 2013, vencido pelo Chris Froome, com a indicação ao segundo da velocidade, cadência, potência e frequência cardíaca, vídeo lançado por Antoine Vayer e "@Oufeh". Acho que nunca aqui falei destas coisas porque nunca achei que valesse muito a pena, mas há sempre uma primeira vez, e era esta, independentemente do que se passasse na chegada a La Pierre Saint-Martin.

Vayer era o preparador físico da Festina que Christophe Bassons chamava de "meu único aliado" dentro da equipa e Oufeh era um anónimo do Twitter que se definia como "apenas outro troll de ciclismo no Twitter". Chegamos a um ponto em que as questões mais duras não vêm dos jornalistas presentes no Tour mas do Twitter, ainda que incomodem muita gente. (Recorde-se o leitor que antes do Tour trouxe para aqui o livro de Bassons. Terá sido por acaso? Ou será que estamos a ver um filme de roteiro já fechado?)

E o que o vídeo de Froome a subir o Ventoux (pode ser visto aqui) tem de interessante? Os dados. A Sky disse no passado que os disponibilizaria mas rapidamente mudou de ideias, como se houvesse algo a esconder. O vídeo mostra que Froome vai a cerca de 400 watts a 153 batimentos por minuto e ataca no grupo de Contador a 650 watts a 161 bpm. Dois minutos depois, com Quintana, Froome vai a 400w a 157 bpm e acelera para os 1000w sem subir o pulso (respetivamente minuto 28 e 30).

Serão os dados verdadeiros? O diretor geral da Sky, Dave Brailsford já veio dizer que os dados foram hackeados e a partir de agora é com os seus advogados, mas se os dados foram hackeados é porque são verdadeiros. Diz Brailsford que têm o objetivo de lançar suspeitas de dopagem sobre Froome. Não concordo com esta observação. Os dados mostram que Froome acelera e destrói Contador e Quintana sem qualquer esforço cardíaco, como se a potência da sua bicicleta não saísse do seu corpo. Não sou fisiológico nem médico, mas acho estes dados humanamente inexplicáveis. De resto, nem os especialistas encontram uma explicação. Estes dados não indicam doping. Indicam que há vida em Marte!

Relativamente à etapa de hoje, as perspetivas já eram muito negativas. Depois da boa forma demonstrada até aqui, a Sky tentaria aproveitar para ganhar tempo, exatamente como dois anos antes.


Mas o resultado saiu muito pior que as mais pessimistas previsões e julgo não ter nada de relevante a dizer. Nunca vi uma chegada em alto com resultados tão expressivos e não me parece que alguém possa realmente acrescentar alguma coisa de valor. Froome espeta um minuto a Quintana, 2'30'' a Van Garderen, 2'51'' a Contador, 4'25'' a Nibali. Imagino a frustração que irá por dentro destes corredores, que sabem tudo o que fizeram e hoje se viram impotentes. Não é a questão de terem perdido, é o caso de terem estado tõ longe. Não é Nibali a questão de Nibali perder demasiado tempo, é que hoje todos passam por amadores. Froome ganha. O seu colega Porte é segundo. O homem das clássicas Geraint Thomas é sexto e ainda diz que estava frustrado por ir atrás de Van Garderen e no carro não o deixarem acelerar.

Vaughters, diretor da Cannondale e ex-US Postal diz que estes são sempre os momentos mais difíceis para o ciclismo. Lance Armstrong, o pai de todos os males, diz que ficam muitas questões desta primeira chegada em alto. E acrescenta as mais sábias palavras para terminar este artigo. "Claramente Froome/Porte/Sky estão muito fortes. Demasiado fortes para estarem limpos? Não me perguntem".

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